sábado, 21 de dezembro de 2013

meus sapatos novos...

Os meus sapatos novos...

Feitos por medida
E à mão.
Para o dia da minha comunhão.
Eram pretos.
Muito luzidios.
Quase serviam de espelho
À minha gravata preta.

Senti-me importante.
Como se fosse um homem.
Ao sair de casa,
Com a vela na mão.
E de camisa branca.

Quando cheguei à capela,
Já me ardiam os pés.
Habituados à liberdade
De andar descalços.
Com neve ou sol.
A caminho da escola
E da catequese.
Por campos e montes.

Nunca mais esqueço
Aquela procissão sem fim,
Da capela à igreja...
Pr’aí um km...
Meus pés a arder,
Pareciam de Cristo...

Quando cheguei a casa,
Libertei-me dos sapatos,
Coitadas das meias...
Que grandes bolhas!...
Quase a arrebentar.

Enchi um alguidar de água
E , com eles lá dentro,
Me senti no céu...

Apesar de tudo,
Prefiro as alpercatas...
Nunca me fizeram mal.

Berlim, 21 de Dezembro de 2013
15h20m
Joaquim Luís Mendes Gomes



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