Minha peneira...
Lembro-me de minha Mãe,
Peneirando a farinha de milho,
Antes de coser o pão.
Gostava daquele cerimonial.
Me parecia sagrado.
Tirava-a dum saco, ao lado,
Com uma tigela de barro,
Da masseira de pinho.
O forno ardia...ardia...
Vermelho,
Em labaredas de cisco.
Cada vez mais fina,
A montanha de farinha
Ia crescendo, sobre o fundo
Masseira.
Retirava dela umas mãos cheias.
Botava-lhe água do cântaro.
Fazia uma pasta,
Como uma patela redonda.
Cobria-a de sardinhas pequenas.
Punha-a sobre a patela de madeira
E aí ia ela,
Pelo forno dentro.
Um aroma a arder
De maresia,
Saía em baforadas.
E a boca saliva de espuma,
Com tanta fome de a devorar...
Muito melhor que pisas...
Sabiam a sal,
Como em frente ao mar.
Depois, vinha aquele rosário constante,
De voltas sem conta.
Ora de água, ora fermento,
E vira daqui...vira dali...
Até a masseira encher.
Duma pasta gigante.
Uma cruz sagrada,
E uma reza bendita,
Sobre aquela montanha,
Clamando a bênção
De quem dá o pão...
Daí a pouco,
Era a imolação.
Uma dezena de bolas
Daquela massa,
Entrava à vez,
Pelo inferno dentro...
Vinha a arte de fechar o forno...
Ainda me lembro daquela portiha,
Em pinho,
Já calcinada,
Com sua sorte malvada...
Acertava à justa.
Mas ainda era preciso,
Evitar a fuga de todo calor...
Era com “ bosta” de boi...
Ainda hoje, sinto e sei
Aquele cheirinho a erva...
E o regalo infinito
Daquelas broas gigantes,
Cobertas de ouro
Sabiam a mel...
E daquele brilho nos olhos
Da minha saudosa Mãe...
Berlim, 20 de Dezembro de 2013
17h9m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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