terça-feira, 14 de maio de 2013


Alegria para quatro…

 

 

Num quarto esconso,

Atrás da porta,

Vivia um sapato.

Sem par

E andava descalço.

 

Encontrou uma bota.

Antiga. De cano alto.

Bico comprido.

Que grande salto.

 À espera dum pé.

 

Fizeram-se amigos.

E foram à festa.

Cheia de tendas.

Uma fartura de tudo.

Tanto calçado, à venda.

 

Podia ser.

Encontrassem seu par.

 

Desanimados,

Voltavam para casa,

Descendo a encosta do monte.

 

Viram uma fonte.

Foram beber.

 

Eis que uma cantarinha,

Muito elegante,

De barro vermelho,

Chegou entretanto.

Para se encher.

 

Vinha descalça.

 

Meteram conversa.

Das agruras da vida...

- que, ali, vinha sózinha.

Tinha a dona doente.

Perdera seu par.

 

- Está como a gente.

- responderam à uma.

Fomos à feira,

Voltamos na mesma.

 

Chegou um mendigo.

Entretanto.

De manta às costas.

E saco vazio.

Só tinha uma bota.

 

Meteram conversa.

 

Com o mendigo, com sede

E cheio de fome

E bota no pé.

 

Começou o negócio.

 

O sapato, cansado

Da bota.

Sozinho.

 

O mendigo, perdido,

Sem nada num pé.

 

A cantarinha, vazia,

À espera de encher.

Para ir ter com a dona,

Doente,

Sozinha, sem par.

 

Saíram os três

A caminho de casa,

Com a cantarinha.

Bateram à porta.

 

A dona, eremita,

Apareceu a abrir.

 

Ao ver a cantarinha,

O sapato e a bota,

E o mendigo,

Bornal vazio

E sem bota,

Foi para cozinha.

Com a água da fonte,

E as couves da horta,

E serviu-lhes de almoço,

Uma tigela de sopa.

 

Ó que prazer!...

Acertaram as contas.

A dona e o mendigo…

Trocaram as botas.

O sapato,

Da cantarinha

Encantado,

 

Que festa mais linda,

Fizeram os três.

 

Ovar, 14 de Maio de 2013

10h32m

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes

 

 

Sem comentários: