Alegria para quatro…
Num quarto esconso,
Atrás da porta,
Vivia um sapato.
Sem par
E andava descalço.
Encontrou uma bota.
Antiga. De cano alto.
Bico comprido.
Que grande salto.
À espera dum pé.
Fizeram-se amigos.
E foram à festa.
Cheia de tendas.
Uma fartura de tudo.
Tanto calçado, à venda.
Podia ser.
Encontrassem seu par.
Desanimados,
Voltavam para casa,
Descendo a encosta do monte.
Viram uma fonte.
Foram beber.
Eis que uma cantarinha,
Muito elegante,
De barro vermelho,
Chegou entretanto.
Para se encher.
Vinha descalça.
Meteram conversa.
Das agruras da vida...
- que, ali, vinha
sózinha.
Tinha a dona doente.
Perdera seu par.
- Está como a gente.
- responderam à uma.
Fomos à feira,
Voltamos na mesma.
Chegou um mendigo.
Entretanto.
De manta às costas.
E saco vazio.
Só tinha uma bota.
Meteram conversa.
Com o mendigo, com sede
E cheio de fome
E bota no pé.
Começou o negócio.
O sapato, cansado
Da bota.
Sozinho.
O mendigo, perdido,
Sem nada num pé.
A cantarinha, vazia,
À espera de encher.
Para ir ter com a dona,
Doente,
Sozinha, sem par.
Saíram os três
A caminho de casa,
Com a cantarinha.
Bateram à porta.
A dona, eremita,
Apareceu a abrir.
Ao ver a cantarinha,
O sapato e a bota,
E o mendigo,
Bornal vazio
E sem bota,
Foi para cozinha.
Com a água da fonte,
E as couves da horta,
E serviu-lhes de almoço,
Uma tigela de sopa.
Ó que prazer!...
Acertaram as contas.
A dona e o mendigo…
Trocaram as botas.
O sapato,
Da cantarinha
Encantado,
Que festa mais linda,
Fizeram os três.
Ovar, 14 de Maio de 2013
10h32m
Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes
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