Milagre do cozido à portuguesa
Em cima das mesas,
Só restam desalinhados,
Os talheres e os pratos,
À solta .
Há restos de peles e ossitos,
na borda do prato.
Naquitos de pão desfeito
Em migalhas e côdeas
Cobrem a toalha.
Sem regra.
Nas travessas, sobram esventradas
Batatas e arroz, vestidos de couves.
Do chouriço negro e vermelho,
Só sobram as peles lambidas.
Que s comam os cães...
Na borda dos copos,
Há marcas de batons
E sujos beijos lambidos.
As garrafas ao alto
De rótulo rasgado,
São vasos calados.
Que perderam o pio.
À volta das mesas,
Há rostos vermelhos e olhos,
Ambos luzentes.
Abundam sorrisos abertos,
Rasgando tristezas
Em irrequietas cabeças.
Gargalham risadas sonoras
Que atravessam a sala.
Parecem obuses.
Jorra alegria à farta,
Em cataratas de fé
Dos pés à cabeça.
As memórias passadas
Chegam fresquinhas em caixas
Que a saudade transporta.
Chovem surpresas ocultas
De pequeninas glórias secretas,
Que iriam ficar sepultadas
No silêncio da cova.
E tanto, a todos interessam.
Como se fossem só suas.
Bendito cozido e filhoses,
Regado de vinho,
Que consegue sentar
Tanta amizade,
De camaradas de guerra,
À volta da mesa, felizes!...
Ovar, 29 de Maio de 2013
7h14m
Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes
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