terça-feira, 28 de maio de 2013


Milagre do cozido à portuguesa

 

Em cima das mesas,

Só restam desalinhados,

Os talheres e os pratos,

À solta .

 

Há restos de peles e ossitos,

na borda do prato.

Naquitos de pão desfeito

Em migalhas e côdeas

Cobrem a toalha.

Sem regra.

 

Nas travessas, sobram esventradas

Batatas e arroz, vestidos de couves.

Do chouriço negro e vermelho,

Só sobram as peles lambidas.

Que s comam os cães...

 

Na borda dos copos,

Há marcas de batons

E sujos beijos lambidos.

 

As garrafas ao alto

De rótulo rasgado,

São vasos calados.

Que perderam o pio.

 

À volta das mesas,

Há rostos vermelhos e olhos,

Ambos luzentes.

 

Abundam sorrisos abertos,

Rasgando tristezas

Em irrequietas cabeças.

 

Gargalham risadas sonoras

Que atravessam a sala.

Parecem obuses.

 

Jorra alegria à farta,

Em cataratas de fé

Dos pés à cabeça.  

 

As memórias passadas

Chegam fresquinhas em caixas

Que a saudade transporta. 

 

Chovem surpresas ocultas

De pequeninas glórias secretas,

Que iriam ficar sepultadas

No silêncio da cova.

E tanto, a todos interessam.

Como se fossem só suas.

 

Bendito cozido e filhoses,

Regado de vinho,

Que consegue sentar

Tanta amizade,

De camaradas de guerra,

À volta da mesa, felizes!...

 

Ovar, 29 de Maio de 2013

7h14m

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes

 

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