quinta-feira, 23 de maio de 2013


Milagre das mágoas…

 

Atirei ao vento as minhas mágoas todas.

Como penas de aves

Que já nem para cobrir do frio,

Serviam.

 

Nasceram em mim,

Tão sorrateiras,

Como ligeiras mossas,

Como feridas graves,

Que nem a chuva ou o sol

Conseguiram sarar.

 

Fiquei curado.

Por um milagre

Que só a Deus eu devo.

Alguém o pediu por mim.

 

Nem a coragem eu tinha

Para o pedir.

 

Voltei a ser de novo.

O amor renasceu.

Muito mais puro.

Com muito mais força.

 

Agora, acordo e amo,

Intensamente,

Cada dia que nasce.

Como nunca amei.

 

Sinto perfumes

Que eu ignorava,

O odor da terra,

Das primeiras chuvas.

 

Das flores silvestres

Que, de graça, tão bem

Vestem os montes.

 

Das tílias gigantes

Que, sem o saberem,

Cheiram a mel.

 

Reparo nos ninhos

Que as aves tecem,

Com o mesmo carinho

Das nossas mães.

 

Sofro a dor do meu vizinho,

Quando lhe vejo lágrimas,

A correrem na face,

Sem curar saber

Se são de raiva

Ou se são de dor.

 

Minha vida corre,

A fluir de Deus,

Como um rio ridente

A correr para o mar.

 

Mafra, 23 de Maio de 2013

20h46m

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes

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