Numa casinha de renda...
Dona Judite era viúva.
Vivia do bordo.
Numa casita baixinha,
Na encosta do monte.
Era de renda.
Trezentos mil réis.
Mas tinha um quintal,
Cercado de canas.
Terra negra bendita
Que lhe dava de tudo.
Um lugar para as galinhas
Que a regalavam de ovos.
E muitos coelhos,
Numa tosca gaiola.
Uma fartura de carne.
No terreiro à frente,
Um canteiro singelo,
Bordava-lhe a casa
Com lindas flores.
Duas fileiras de vasos,
Que ela regava,
Bem perfiladas,
Talhavam-lhe a ruinha,
Sem degraus,
A subir para a casa,
Virada para o sol.
Na porta da entrada,
Pintada de verde,
Havia um janelo,
Por onde ela espreitava,
Antes de abrir.
A água para a casa,
Ia buscá-la
À fonte da Santa,
De cântaro à cabeça,
Para uma talha,
Bojuda de barro,
À beira do lar.
As águas da chuva
De todo o telhado,
Escorria em caleiras,
E era guardada
Num tanque de pedra,
Tapado.
Chegavam de sobra
Para a rega da horta.
Ao pé duma mesinha de loisa,
Baixinha,
Com dois bancos de pedra,
Corridos,
À sombra duma trepadeira perene,
Que dava flores,
A senhora Judite bordava...
Bordava...horas a fio.
Toalhas de linho
De crivos e lindos quadros,
Cheios de cores...
Que vendia na feira.
Davam para renda
E despesas da casa.
Ovar, 30 de Maio de 2013
7h55m
Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes
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