quinta-feira, 30 de maio de 2013


Numa casinha de renda...

 

Dona Judite era viúva.

Vivia do bordo.

Numa casita baixinha,

Na encosta do monte.

Era de renda.

Trezentos mil réis.

 

Mas tinha um quintal,

Cercado de canas.

Terra negra bendita

Que lhe dava de tudo.

 

Um lugar para as galinhas

Que a regalavam de ovos.

E muitos coelhos,

Numa tosca gaiola.

Uma fartura de carne.

 

No terreiro à frente,

Um canteiro singelo,

Bordava-lhe a casa

Com lindas flores.

 

Duas fileiras de vasos,

Que ela regava,

Bem perfiladas,

Talhavam-lhe a ruinha,

Sem degraus,

A subir para a casa,

Virada para o sol.

 

Na porta da entrada,

Pintada de verde,

Havia um janelo,

Por onde ela espreitava,

Antes de abrir.

 

A água para a casa,

Ia buscá-la

À fonte da Santa,

De cântaro à cabeça,

Para uma talha,

Bojuda de barro,

À beira do lar.

 

As águas da chuva

De todo o telhado,

Escorria em caleiras,

E era guardada

Num tanque de pedra,

Tapado.

Chegavam de sobra

Para a rega da horta.

 

Ao pé duma mesinha de loisa,

Baixinha,

Com dois bancos de pedra,

Corridos,

À sombra duma trepadeira perene,

Que dava flores,

 

A senhora Judite bordava...

Bordava...horas a fio.

Toalhas de linho

De crivos e lindos quadros,

Cheios de cores...

Que vendia na feira.

 

Davam para renda

E despesas da casa.

 

Ovar, 30 de Maio de 2013

7h55m

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes

 

 

 

 

 

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